terça-feira, janeiro 03, 2006

Grito de revolta sobre o estado das coisas!

Vi este texto num dos muitos blogs que visito quando o tempo não me é curto.
É um excerto de Guerra Junqueiro - in Patria; e faço dele o meu grito, a minha raiva, o meu descrédito, a minha desilusão pelo estado actual deste país que me viu nascer e onde cada vez mais as pessoas nada fazem pelo sua própria felicidade, pela sua própria dignidade e pelo futuro dos que virão depois deles.

É engraçado como há coisas que nunca mudam neste país.
ONTEM COMO HOJE:

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, - reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta (...)

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e estes, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do país, e exercido ao acaso da herança, pelo primeiro que sai dum ventre, - como da roda duma lotaria - A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;
Dois partidos (...), sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes (...) vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se amalgamando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, - de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar (...)"

"Os políticos consideram-me um poeta; os poetas, um político; os católicos julgam-me um ímpio; os ateus, um crente" - [Guerra Junqueiro, in Pátria]

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Certeiro retrato da realidade Nacional.
Portugal será uma breve uma col´nia brasileira, desenganem-se os optimistas que seriamos o Brasil da Europa, se isto já era nenhum elogio, então sermos colonizados por aquela gentinha, é qualquer coisa inqualificável.

domingo, 15 janeiro, 2006  

Enviar um comentário

<< Home